domingo, 17 de junho de 2007

Primeiras criticas ao disco novo.

O que faz uma banda Brasileira? Mais além, pode uma Banda representar o mais autêntico do Brasil? E esse Brasil? Vale a pena? A resposta, nada simples, leva a caminhos tortuosos de definição da verdadeira índole do brasileiro. Macunaíma e o Homem Cordial parecem chocantemente inexoráveis, ao anunciar uma total ausência de virtudes como nosso maior traço. A aproximação bioétnica também teima em pairar sobre nossas cabeças: a fusão de raças é uma míope e mal-disfarçada visão reducionista, ao desprezar o multiculturalismo fulgurante em que vivemos.

Nessa tortuosa busca de identidade, em que sempre aparece a metáfora do paraíso terreno, onde tudo parece ser permitido, a autenticidade soa quase uma abstração. Teimamos em ser o que não somos. A importar o que não precisamos. A nos desinteressar pelo que nos enleva.

O som da Banda Somba, no CD, Cuma? é, do início ao fim, um libelo pela brasilidade e pela vida que vale ser vivida. Nada é poupado: de ironias que invadem o céu, a frases ácidas contra a hiperpolítica cibernética como uma (nova?) espécie de alienação. Sim, o Somba sabe que a língua portuguesa é nossa pátria; mas com eles, o vernáculo parece se mostrar muito maior que pensamos – haja vista, por exemplo, a letra em portunhol que parece vinda de um morador do Brás da década de 1930.

E os sentimentos? A sinestesia reina presente, causando sensações que beiram o choro interior e alçam a alma à pura apreciação estética. O Somba é uma banda brasileira mesma quando canta em inglês. De finíssima técnica musical, de um humor lancinante e de uma poesia alentadora, dá até saudades de tentar ser brasileiro. Identificar-nos, criticarmos a nós mesmos, a nossa capacidade de rir – e eventualmente chorar – é mote dessa banda que parece estar trazendo de volta uma vida que vale ser vivida.

Brunello Stanciolli
Prof. da Escola de Direito da UFMG.

domingo, 3 de junho de 2007

Palavra

Tome cuidado com a palavra
pra não jogar conversa fora
aqui se colhe o que se lavra
palavra certa não tem hora

Palavra forte, como a morte, desespera
palavra séria é sem matéria que suporte
palavra sorte pelo norte se entrega
palavra brega, quando pega, se contorce

palavra gasta não se basta nem se fecha
palavra brecha dá a deixa para a casta
palavra vasta pela máscara se queixa
palavra gueixa pelo beijo se devassa

palavra manca não se espanta pela sina
palavra fina não se estima pela banca
palavra franca, pelo tranco, desafia
palavra mina explode a rima que desanda

palavra falha não trabalha quando some
a palavra se consome pelo homem que se cala
palavra tralha não se malha pelo nome
palavra fome pelo homem se espalha