quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cético

Meu prazer idílico
tem cheiro de basílico
um entorpecer etílico
e um ideal bucólico

Seu prazer católico
tem poder caótico
conteúdo narcótico
disfarçável estético

meu prazer atávico
tem teor afável
mas cheira a óleo diesel
apesar de ser louvável

seu prazer estático
um tanto quanto pragmático
tem poder simpático
que embriaga o ético

somos um casal socrático
para não dizer patético
perdemos por não sermos práticos
ganhamos por sermos sincréticos

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Escancarado

Vez em quando encontro-me só
na solitude de um bar
ou qualquer outro lugar
onde a minha presença é dispensável
somente eu e o que penso
casal boêmio e inseparável
em pessoa, quase tributável
mas sou assim, sem fim
incontido no marasmo
jogo aberto, pleno pleonasmo
estonteantemente alcoólico
e por demais bucólico
para pensar na sorte
se, por certo, sou forte
se deserto, é morte
os sacrilégios cometidos
são moinhos de vento
cem por cento imagináveis
o quixotesco orgulharia-se de mim
mas não eu
eu não
fui algo que sobreviveu
à minha alucinação coletiva
à minha mente barbárie
meu desejo dói hoje
como uma cárie...

Sítio

Vou te encontrar
perto do horizonte
no universo paralelo
onde o sítio era amarelo
e o grito na minha guela
era o que se ouvia ao longe
Barnabé, bicho-de-pé
cobra, jacaré
e um monte de versos
coloridos como sua fé
Essa é a sorte ser alguém que não se é
méééééééé!!!...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Proof.,

e se eu te fizesse do meu ódio
e se eu te chorasse sob meu gládio
e se eu te provasse pelo meu remédio
saberias como sou ofídio

e se eu te mostrasse apático
e se eu te largasse hermético
e se eu te deixasse crítico
saberias como sou prático

e se eu te matasse pelo rádio
e se eu te jogasse pelo tédio
e se eu te julgasse como pífio
saberias como é meu ópio

e nem se eu te gritasse por um século
e nem se eu te tocasse como piccolo
e nem se eu te enxergasse pelos óculos
saberias como é meu vernáculo

onde ao silêncio dos bons não me junto
nem pelo barulho de tantos janto-me

pelo revolver eu me atiro

minha bala é o belo
minha bilis é o bolo
que ebule enquanto escrevo...

Será?

Não sei se sou bom poeta
Não sei nem se sou poeta
Há quem duvide
e, a quem duvida, digo
em alto e sonoro tom
à moda do nosso cinema:
FODA-SE!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Poema de uma vida

NASCIMENTO

Tão longe vou-me
à procura de onde me perco
de perto, me acerto
por onde vou-me longe

por certo, não sou monge
e nem de longe passo perto
tão torto quanto incerto
reporto-me aos montes
à procura de outras fontes
que me vejam como me enxergo
um ser
eminentemente interno...

MORTE

Como diria o poeta
nasci torto, meio gauche
onírico
mímico
com uma salubridade duvidável
fui amável
sou estorvo
mas um dia retorno
natimorto

RESSURREIÇÃO

antes artista
hoje engajado
antes artista
hoje enjaulado
antes artista
hoje abortado

hoje o artista
é, antes de tudo,
bastardo.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Maísa Moura no Teatro Alterosa


Um CD delicado, em que os arranjos minimalistas e a interpretação suave parecem estar a serviço da poética das letras, como se fossem veículos para ressaltar a força do texto. Essa é a primeira impressão que fica ao se ouvir o álbum «Moira», da cantora Maísa Moura. Além do viés calcado muito na força expressiva das letras, outro fio condutor que confere unidade ao trabalho diz respeito aos arranjos. Essa também foi uma preocupação de Maísa Moura, que escalou o trio de arranjadores Avelar Jr., Guilherme Castro e Vladmir Cerqueira. A sonoridade limpa, sem muitos instrumentos, é eficaz e enriquece melodicamente cada interpretação.
César Macedo – jornalista
Jornal Hoje em Dia