segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Acidez

sei que tenho andado meio ácido
fabricando suco gástrico 
pra digerir as minhas mágoas

sei que nosso acordo é meio tácito

algo frágil, rouco e flácido
que subverte os olhos d’água

sei que quando sou um pouco extremo
a ideia foge enquanto treino
meu olhar a desviar do seu

e então acordo torto como um prêmio
por deixar morto o dom supremo
de ver seus olhos antes dos meus

sei que falo em primeira pessoa
mas tem ideia que ressoa
entre outras que vão pelo ralo

como um sopro que expõe o que se assoa
escorro rápido antes que doa
na primeira pessoa que falo

domingo, 28 de maio de 2017

Inominável

Há um pedaço de mim
Que me pede o aço
Sem que eu consiga dar

Há um interno em mim
Que me interna terno
Antes que eu me pare

Parir ao mundo uma exceção
Algo que me deixe lembrança
Ouvir da vida uma razão
Sem perdoar a estrada
Para o atalho do coração
Atordoado com a navalha
Pensa por um fio
Sobre a cabeça que se nega ao fim

Haja carrasco em meus pensamentos
Guilhotinas para a ponta de um lápis
Que só escreve porque puxo o gatilho
Sou afilhado de uma parte de mim que não morre

E ando esparso pelo espaço em branco
Já não sofro tanto mais e nem tento
Pois sou de luto rápido nesse corpo lento
Quis um dia ser mais pensamento
Mas continuei sublime em pranto...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Dois sujos em uma noite perdida

Quem se habilitou
a ter sapato um dia
assola quem gastou
o que o salário adia

Quem se atreveu
a antever a noite
por raiva absolveu
do seu boato o açoite

Quem se ofereceu
a ter trabalho e flauta
reclama o que sofreu
pra quem roubou-lhe a pauta

Quem se amasiou
teve parceiro em crime
enforca a quem matou
o que o ódio exprime

Perdeu-se à noite
Ergueu-se à lua
Talhou-se em dois
Sujou-se à rua