domingo, 9 de setembro de 2012

Luto

Foram-se os pés, ficam os passos
Foi-se a caneta, ficam as palavras
Foi-se a hora, fica o tempo

Luto, hoje pela sua saudade
Luto, para seguir seus passos
Luto, para ter palavras tão belas quanto as tuas
Luto, por tudo que vivemos juntos
Luto, por lutar na luthieria da vida
E deixar ao final um luto

Foram-se os sons, fica a música
Foi-se o pai, ficam os órfãos de tudo
Foi-se a vida, fica o amor


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Tal Amor Mor

Pela Morte eu fui a Marte
Ver a morte vermelha
Por amar-te vi a morte
longa aos filhos da centelha
Com postagens mórbidas
De amor

Afinal,
Amor te faz viver
Amor te faz crescer
Amor te faz morrer
Amor te faz matar
O que a morte faz amar-te
Mortal é o amor tal como a morte
Ao final

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Aperto

Tem dias que a gente sente um aperto na alma
quando turva-se os sentidos e nada conforta
E tudo que a gente quer é só um aperto na alma
Que abrace confortavelmente a ausência sentida
Que ajude a passar o aperto
E nos faça sentir mais perto da alma
A minha alma com’cê
Vira calma
Sua cama com’ele
Vira calma
E nossa calmaria
Nunca acalma
Sem que se sinta um tal aperto na alma

terça-feira, 24 de abril de 2012

Flores no mar

Flores coloridas gritam soltas pelo ar
Flores que iluminam o mar
Flores persistentes continuam a voar
Flores que decoram o lar

São gerânios e homônimos
Anônimos, antônimos
binômios espetaculares

crisântemos anímicos
atônitos e endêmicos
sinônimos de almas nucleares

Cores doloridas criam flores sem contar
Cores de um corpo par
Cores comovidas como flores de um lugar
Onde o coração é mar

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Ressaca


Quando a noite acaba
É onde começa a peleja
Um novo dia nasce
E em sua face a beleza
Movo meu caminho
Pra me livrar da tristeza
E do redemoinho
Que pela alma fraqueja


Quando a luz se apaga
Me apego ao som da incerteza
Que me reduz a nada
Enquanto nado em cerveja
É a mesma nova esbórnia
Que sempre dão de bandeja
E que transforma a escória
aonde quer que esteja

Na rotatória da inveja
compra-se o que desdenha

Artrose ou Art-rosê?

Há braços
e abraços
beijos e beiços
pele
pelos ouvidos
ou vidas
que só fazem
sentidos
juntas

domingo, 15 de abril de 2012

Kem soul

Quem sou eu
E quem é você
Pra me dizer
Quem sou?

Ainda procuro a brecha
Na ponta dessa flecha
Que abre e fecha meu peito

Ainda procuro a adaga
Que ameaça e indaga
A parte vaga do meu leito

E eis que nisso há o encontro
De algo que veio pronto
E que desmonta pelo jeito

pois queria só um toque
E um carinho a reboque
Tão Loki feito seu beijo

Sou Loki feito seu
Tão Loki jeito seu
E quem sou eu
E quem é você
Pra me dizer
Quem sou?

sábado, 17 de março de 2012

Insônia

Chamei pelo nome meu sono
Que urgia por cuidado
como cão sem dono
coitado

Puxei o pé pelo gargalo
E sabe-se lá como
Deitei sonhos
Acordado

E quando a cabeça se perde pelo pomo
E a voz solta um som alado
da dor que domo
calado

torno zelo o que achei insone
o nome é recuperado
a ideia mono
apago

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Beata Hágata


Da janela de meu quarto
Vejo parte de um muro verde
Entre nós, outro muro se ergue
Grande muralha de concreto e carne

Daquele furo no espaço
Sinto no rosto uma carícia aérea
Vejo o anúncio de uma vida térrea
E me pergunto então: o que faço?

Às vezes, não há resposta
E o único sentido da janela
É simplesmente olhar por ela

Pior quando não há pergunta
E a muitos outros a gente junta
o amor por algo que não se gosta